Estudo: Entre Homens e Ratos

Entre Homens e Ratos: Um Estudo Sobre a Ambiguidade e a Contradição Poética de Hiago R.R. de Queirós.

Por: Ana Marcusin de Almeida.

Muito tem se falado sobre um jovem poeta que está se destacando por seu alto grau de desenvolvimento poético-literário, e de maneira mais em conta de dom e talento do que de experiência, por ser jovem. A pedido de mutios amigos e colegas de trabalho, decidi estudar um simples poema deste poeta, escolhido por uma de minhas principais alunas. Espero ter me aprofundado com verossimilhança e objetitividade no intento.

Entre Homens e Ratos, segunda estrofe.:

Homens vêm, ratos vão...

somente um braço faz este versar,

cem braços fazem um prédio

para mil ratos ocupar

e a morte é como se não houvesse

braços e ratos o bastante para se eternizar.

Se dermo-nos conta de que no poema o conceito de “rato” é o de praga nojenta ou de um ser insignificante, sem motivo de exisitir além de se estar vivo, temos que elevá-lo à visão de que o rato está assemelhado ao homem como um ser que, mesmo tendo um significado de vida além do só “para estar vivo”, também passa, e morre como se não houvesse “braço” -- que no mesmo poema pode ser significado como força de realização, energia ou potência -- e que se nunca houvesse o bastante para tornar-se eterno; ou seja: além do braço, ou da qualquer força humana não tornar o homem a qual pertence eterno, ele não torna com isso nem a si mesmo, dizendo então que nem o esforço humano é eternizável. Os ratos, no mesmo verso: “braços e ratos o bastante para se eternizar”, diz que tudo passa, que todos os valores morais humanos, assim como a força, são inúteis, que não se eternizam porque o homem busca sempre superação, sempre esforçando-se por mais força.

Mas o que está afirmando esta estrofe é exatamente ao contrário, pois o primeiro verso: “Homens vêm, ratos vão”, traz como um refrão mutativo de posições no início todas as estrofes, focando um 'apesar de”. Vejamos que o poema diz que nascem e morrem homens e ratos, ou seja: sempre, em constância; portanto, só por nascerem e morrerem, os homens e os ratos, num mesmo padrão, já são eternos. E o que torna esta obra ainda mais genial, é o seguinte verso: “e a morte é como se não houvesse”, esse tal de: “como se”, diz de algo que não é, mas que aparenta ser idêntico, sendo além de semelhante.


Em: Entre Homens e Ratos, Hiago R.R. de Queirós versa que, por mais que haja esforço humano para se diferenciar da insignificância dos ratos, que ele mesmo identificou como humanos, ao dizer que o prédio é feito para mil ratos -- ou: homens insiginificantes -- ocupar, e este “ocupar” que dizer: siginificar sua existência, dar um emprego, um salário, enfim: uma ideologia de vida, visão esta, que até para os artistas é sufocante e reprovável, o poeta critica até os artistas, ao mostrar: “somente um braço faz este versar”, incluíndo à mesma estrofe que insignifica o esforço humano em se erternizar num mundo que não é humano, um mundo que é só material instintivo e irracional, o mundo dos ratos.

As outras estrofes defendem a mesma idéia, sem contradições que não sejam as de vista logo encontradas, vejamos a primeira estrofe:

Homens vêm, ratos vão...

cada piscar já é um choro

consciente e melancólico,

que sabe que por mais que sorria

um dia não mais piscará.

Aqui a contradição está em: “cada piscar já é um choro” contra: “que sabe que por mais que sorria”, esta contradição não está muito saliente, mas o implícito diz do esforço por piscar sempre sorrindo, mas que por ser: consciente e melancólico... dá a versão invertida, pois claramente, sem contradições seria: “melancólico por ser consciente” de que: “um dia não mais piscará”. Mas a contradição não foi posta só para embelezar, e sim para ambiguidar com a idéia de que, por mais que se seja feliz (que está implícito), ou, por mais que seja melancólico (que ficou escondido pela contradição), um dia não mais piscará. Aí está a primeira contradição.

Posta as duas estâncias inciais, analizemos juntas as duas seguintes:

Homens vêm, ratos vão,

é como se o brilho só brilhasse

para ser reparado ao se apagar;

é como se o relógio só contasse

o segundo que acabou de passar...

como se todo o sangue corresse

já sabendo onde parar.



Ratos vêm, homens vão,

tudo o que fica é o que não ama,

tudo o que fica só é amado,

--- ninguém odeia carros, jóias...

homens se matam porque amam e se odeiam...

ratos, são mortos porque não sabem amar.

O que está implícito aqui é significação, a animação de objetos inanimados, e sobretudo: a humanização de acontecimetos físicos e a sentimentalização por eles, vejamos: “é como se o brilho só brilhasse/ para ser reparado ao se apagar;” que nos mostra este “reparar” pelos homens, como se o brilho fosse importante somente por ser para o homem ver, e vendo-o se apagar deliberadamente, apenas para que o homem o notasse, notando com isso a vida se indo. O mesmo ocorre com os versos seguintes: "é como se o relógio só contasse/ o segundo que acabou de passar.../ como se todo o sangue corresse/ já sabendo onde parar”. E, dando uma ênfase nos dois últimos versos podemos, inclusive, destacar a idéia de premeditação, como se somente o sangue soubesse onde irá parar, mas que também corresse... deliberadamente, mostrando a circulação e os batimentos cardíacos como independentes do controle humano.

Já na segunda estrofe, o que se contradiz é a idéia de que: “tudo o que fica é o que não ama, tudo o que fica só é amado,” pois Hiago Rodrigues Reis de Queirós assim atesta que a humanidade é o que fica, apesar da unidade humana, ou: cada homem, morrer. E, intensificando, podemos até unir esta significação com os sequentes versos: -- "ninguém odeia carros, jóias..." ao citá-los como produtos da criação humana que não morrem, e são humanamente amados, tratando o amor assim então como se fosse imortal da humanidade, como caractística própria, mas que também mortal, por morrer o amor de cada homem junto dele, assim o poeta define a última contradição em ambiguidade: “homens se matam porque amam e se odeiam.../ ratos, são mortos porque não sabem amar.” que deixa claro o egoísmo humano em amar isso e matar aquilo que não ama e sim odeia, mesmo sendo capaz de amar o que matou, e, a tratar-se dos ratos, o que definido ficou foi que toda a humanidade, tudo o que define o homem como diferente do rato é a sua faculdade de amar, mas que ratos são mortos mesmo assim, mesmo não sabendo amar, e que se os homens não amassem, talvez não se matariam, o que contradiz o instinto animal do rato, que pode matar, mas sem a fabulação sentimental.

Vendo num todo, este poema trata da condição humana frente à imortalização da mortalidade, com um certo grau de pessimismo consciente do otimismo, que, em poucas palavras, nos diz: homens e ratos nascerão e morrerão, mas que se façam no intenso do que são, por uma eternização inalcansável, ao mesmo tempo que criticando-se extremamente pelo que são e não pelo que almejam ser.

Ao estudar este poema, senti-me interessada nos aspectos objetivos, e não estéticos, embora seja muito difícil o fazer numa obra poética, sem usar de uma subjetividade de impressão. Assim, atesto a genialidade de Hiago Rodrigues Reis de Queirós, como um dos poucos exemplos de uma poesia contemporânea inteligente, sentimental e acima da tudo: genuína, sem contaminações paródicas ou referências anteriores, posso então dizer, a partir desta e das demais obras exemplares, que este poeta está criando sua poética, e não só reproduzindo literatura.


Parabéns ao poeta Hiago Rodrigues Reis de Queirós, pelo imenso, intenso e tão precoce talento. Será, ou até mesmo já é, sem dúvida alguma, uma das principais vozes poéticas da atualidade.



Ana Marcusin de Almeida, editora, crítica literária e mestre em literatura.
 
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