A Provocação do Realtragismo sobre a Realidade

O Realtragismo analisa a tragédia pelas suas causas, desta forma, o que vem antes dela já é tratado como tragédia, e por isso os Realtragistas dizem que "toda tragédia é causada pelo descaso da sociedade frente à realidade". Descaso? 


A Teoria Realtragista, apresentada pelo escritor brasileiro Hiago Rodrigues Reis de Queirós, diz que quando o agente da tragédia perde o senso da sua realidade, e de como ela acontece enquanto fenômeno, acontece uma realidade, ou seja: um fenômeno, de aniquilamento deste agente, pondo-o em cheque contra suas ações, fazendo-o mudá-las ou seja: repensá-las. Assim explica-se a tragédia: como se a Realidade pedisse para ser mudada, e, não sendo atendida, esta realidade se faz contra o agente, gerando a tragédia. 

Hiago Rodrigues Reis de Queirós disse em 2006, em seu Manifesto Realtragista, que os artistas são os que têm o maior poder de moldar o comportamento da sociedade, e que portanto era deles a responsabilidade de perceber quando uma determinada realidade não está de acordo com o bem da sociedade, e, na arte, propor uma mudança do comportamento - comportamento este que é baseado nos valores morais. 

Usando estas teses de maneira prática, podemos dar o exemplo de qualquer tragédia, como por exemplo um dos aviões que ultimamente vêm caindo aqui e ali. 

Digamos que o agente desta tragédia é "quem deveria ser responsabilizado caso o avião caísse" e digamos que este agente, enquanto agia na realidade, deixou de perceber que sua forma de agir não era mais condizente com o que a realidade cobrava (pois cobrava mais atenção, inspeção, outras formas de vôo, outras condições de tempo, etc) para que não houvesse uma tragédia. 

Desta forma podemos dizer que não há acidentes(1), mas sim "perda do senso da realidade". É como se ao andar, ignorássemos que de chão seco passamos para o molhado, e que o próprio chão tenha nos derrubado, num mínimo deslize. O tombo é a tragédia e o chão é a realidade... logo: a mudança na forma com a qual caminhamos é o que deveríamos te feito antes, mas só fazemos agora, depois de termos caído. Assim a realidade age, como se fosse um ser vivo que pede a mudança no comportamento de cada agente da realidade e num todo: da sociedade. 

Se levarmos ao pé da letra o significado de tragédia(2) , dizemos que é ela uma “Realidade que acontece contra, em aniquilamento do agente”. Usando então este significado, podemos dar o exemplo desta crise de 2008, e citar os agentes dela como sendo os bancos que emprestaram dinheiro para os clientes subprime(3) de uma forma desmedida. Clientes que, por sua vez: não tinham dinheiro para pagar as parcelas dos financiamentos, que aumentaram por conta dos juros, que deveriam ser de 1%, mas que aumentaram porque o Governo sentiu o medo de tantos clientes sem renda comprovada emprestarem dinheiro dos bancos ao mesmo tempo, dando suas casas e outros bens de garantia. 

A Realidade deixou de ser vista pelos bancos que emprestavam dinheiro – estes bancos são os agentes –, e quando os clientes subprime não pagaram, os bancos, para não quebrarem, acionaram as seguradoras, que, por receberem o pedido de seguro todas ao mesmo tempo: quebraram. O mundo todo comprou os títulos dos bancos e das seguradoras quebradas que emprestaram o dinheiro aos subprime... e estes títulos tornaram-se podres: sem valor algum. E então a tragédia, que é, como disse Hiago Rodrigues Reis de Queirós: a Realidade que acontece contra o agente, se instalou em todo o Estado americano, e até no mundo. Desta forma todos foram os responsáveis pela tragédia, por não perceberem a realidade que ia se moldando: com subprime emprestando dinheiro sem poder pagar e bancos gananciosos querendo bater sua meta, emprestando dinheiro para o maior número de pessoas. O que aconteceu foi culpa de todos os que podiam ter feito algo: subprimes, bancos, governo, e de todos nós, que apenas vimos o Obama tentar resolver a crise, mas não percebemos que nenhum comportamento foi mudado, e que se daqui há dez anos todos os bancos decidirem emprestar dinheiro aos subprime, todos quebrarão novamente, e com eles vão os que compraram os seus títulos. 

Assim o Realtragismo provoca a realidade, pois atinge a todos, e a todos chama à discussão dos problemas. Pergunta ele: o que fizemos depois que o avião da Tam caiu? E se acontecer de novo? Será que a realidade foi mudada?, ou seja: será que outros procedimentos foram adotados para que não acontecesse mais uma tragédia? Quais procedimentos? Quem está de olho? 

Esta provocação é tão realista quanto niilista, pois cobra sim uma moralidade, mas não apresenta uma moral como certa e outra como errada. Diz o Manifesto Realtragista que o objetivo é por a maneira de agir em discussão, procurando por todas as pessoas como responsáveis pelas tragédias, mesmo que elas só assistam pela televisão, elas são responsáveis por apenas assistirem. 

O Realtragismo é uma forma revolucionária de pensar a Realidade, e essencial para determinar os paradigmas atuais, de uma sociedade cada vez mais preocupada em sobreviver de motivos supérfluos, cada vez mais vivente pelo hoje e despreocupada com a realidade, como se não fossem responsáveis por ela, e somente tivessem que “reagir”, alienada então de sua existência, ou nas palavras de Hiago Rodrigues Reis de Queirós: “preocupadas demais em sobreviver, mas não em como e pelo que viver, quando estes definem a sobrevivência”. 


1: Citação em: Análise Prática da Prática Realtragista, 2008. Hiago Rodrigues Reis de Queirós.
2: Citação em: O Realtragismo existencialista, 2007. Hiago Rodrigues Reis de Queirós.

3: Clientes subprime: pessoas que não têm emprego fixo e nem propriedades em seu nome.

fonte: http://www.overmundo.com.br/overblog/a-provocacao-do-realtragismo-sobre-a-realidade

 
Creative Commons License
blog da Assessoria by Assessoria do Hiago is licensed under a Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.
Based on a work at hrrq.webnode.com.
Direto da Assessoria do Hiago. Design by Pocket